09 maio 2010

Vida "eterna" digital próspera na web


Junto com a expansão da internet e das redes sociais, houve uma explosão de sites que se oferecem para, após a morte, manter seu perfil no Facebook, mandar uma mensagem de e-mail ou manter um site por 25 anos. Outros propõe um serviço de administração da vida digital após sua morte, borrando progressivamente sua existência.

A reportagem é de Jamil Chade e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 09-05-2010.

O maior dos sites de relacionamento social, o Facebook, estima que 3% de seus usuários já morreram. No fim de 2009, a empresa anunciou serviços para manter o perfil dos mortos, mesmo que por anos. “Quando alguém parte, não ficam apenas em nossas memórias, mas também ficam em nossas redes sociais”, diz o site em sua página de blogs. “Para refletir essa realidade, criamos um memorial de perfis, um lugar onde as pessoas podem salvar e compartilhar suas memórias sobre pessoas que morreram”, explica.

Há duas opções para ter seu perfil nessa galeria. O usuário pode pedir ao Facebook ou família e amigos podem tomar a iniciativa. Para isso, o site pede uma prova de relacionamento com o morto ou mesmo um certificado de óbito. O site afirma que informações consideradas sensíveis são retiradas, como telefone e endereço. O perfil é congelado, para que ninguém possa modificá-lo.

Última palavra

Empresas na Europa e nos Estados Unidos administram a vida digital de mortos. No caso de executivos ou banqueiros, sites permitem que um código de uma conta ou programa não desapareça com a morte. O site manteria a informação protegida e, a cada mês, envia um e-mail ao detentor do segredo. Se no terceiro e-mail não houver resposta, o site considera que é hora de enviar a mensagem para a pessoa designada com o segredo. O site admite: em caso de um coma prolongado, o sistema não funciona.

No MyLastEmail.com, uma pessoa pode planejar um e-mail de despedida para depois de sua morte. Um amigo próximo daria o sinal verde para o envio. O pagamento anual varia entre US$ 50 e US$ 100.

Há ainda a possibilidade de programar para uma data futura o envio de um e-mail por parte do falecido. O serviço chega ao ponto de oferecer o envio de e-mails na data de aniversário de um familiar, anos depois da morte do dono da conta. Claro, quanto mais serviços encomendados e mais anos de duração, mais cara é a cobrança em vida.

“Superando a morte”

Esse é o lema do site DeathSwitch.com. A empresa promete, por exemplo, ajudar o falecido a não levar segredos para a túmulo. “Não morra e leve consigo segredos”, diz o site. A ideia é a de que, diante da morte do dono de uma conta de e-mail, a empresa envie uma mensagem em nome do morto revelando segredos guardados por anos.

Outro serviço é o do site GreatGoodbye.com, que oferece enviar a familiares e pessoas designadas de antemão como é que o falecido gostaria que seu funeral ocorresse.

A gestão da vida digital de um pessoa ainda é oferecida pela LegacyLocker.com, que promete bloquear todas as contas e e-mails do usuário morto, protegendo dados relevantes e evitando a atuação de hackers ou mesmo de organizações criminosas.

ENQUANTO ISSO..

”É uma forma autoritária de se fazer presente”

A tentativa de se manter vivo virtualmente mesmo após morrer no “mundo real” pode indicar, segundo os especialistas, baixa autoestima, desamparo pessoal, dificuldade em lidar com a perda e necessidade de cultivar lembranças. “É uma fantasia de imortalidade e de onipotência. Mesmo com a intenção amorosa, é uma forma autoritária de se fazer presente”, afirma Rosa Maria Farah, coordenadora do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP.

A reportagem é de Mariana Mandelli e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 09-05-2010.

Alguns serviços podem ser úteis, afirmam os pesquisadores. Planejar virtualmente o funeral, para quem tem dificuldade de lidar com isso em vida, pode ser uma alternativa, assim como revelar senhas após o falecimento do usuário pode ser prático.

“É compreensível que não se queira discutir a morte em vida”, explica o psiquiatra do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Unifesp, Aderbal Vieira Junior. “Esse tipo de serviço é uma forma de se fazer virtualmente aquilo que já era feito antes, como um testamento, na “vida real”.”

O surgimento dessas manifestações mórbidas na internet pode ser encarado como mais um dos reflexos da transferência da realidade para o universo digital. “A internet é uma alavanca de dificuldades e recalques das pessoas. Ela dá a possibilidade de exercer um controle que não temos na vida real, como administrar uma fazendinha ou um falso perfil”, explica o coordenador do projeto Dependentes de Internet, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, Cristiano Nabuco de Abreu.

Para ele, a possibilidade de reescrever a vida, mesmo que digitalmente, atrai as pessoas. “O problema não é a rede, mas sim as nossas vulnerabilidades, que levamos para ela. A internet acaba funcionando como uma fuga para as situações pesadas da realidade.”


Fonte: comshalom

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