9º Domingo do Tempo Comum - A
“Olhai para mim, Senhor, e tende piedade, pois vivo sozinho e infeliz. Vede minha miséria e minha dor e perdoai todos os meus pecados!”(cf. Sl 24,16.18).
Meus irmãos e minhas irmãs,
O momento presente, chamado de tempo comum é o tempo dedicado do cotidiano, da vida, em que a Igreja nos convida a vivenciar nas pequenas coisas da vida diária a santidade. Santidade que consiste em fazer a vontade de Deus, que não pode ser apenas expressa em palavras vazias, mas na prática de uma vida coerente de busca continua e ingente de santidade, vontade do Pai que está nos Céus.
Irmãos e Irmãs,
A Primeira Leitura(Dt 11,18.26-28.32) nos ensina que ouvindo a Palavra de Deus e colocando em prática a sua Lei teremos a recompensa pela fidelidade que é a felicidade junto de Deus. Essa felicidade depende de nossa liberdade e de nossa opção em aceitar e viver o projeto de Deus.
Deus iniciou com Israel um itinerário, um caminho. O caminho de Deus está nas palavras da Lei. Israel deve tê-las diante dos olhos como o timoneiro no céu.
Observar a Lei serve para o bem do homem: assim pensava os homens do Antigo Testamento. A lei não é opressora, mas sim libertadora, porque quem sabe cumprir a lei sabe degustar a fidelidade a um projeto maior de lei e vida diária que é a SAGRADA ESCRITURA.
Observar a lei do Antigo Testamento não pode apenas ser reduzido ao sentido de prosperidade material, mas sim de prosperidade espiritual, de puro e genuíno encontro com o Senhor da Lei, da Esperança, do Amor e da Vida.
Quem observa a Lei receberá abundantes bênçãos do Céu, e quem desobedecer a Lei sagrada será réu de maldição.
Meus irmãos,
Refletimos hoje no Evangelho(Mt. 7,21-27) a fé que é professada pelos católicos deve seguir uma prática de amor e de solidariedade atendendo ao mandato de Jesus: “Daí-lhes Vós mesmo de Comer!”
O verbo “ouvir”, escutar, na Bíblia tem um sentido muito maior e mais amplo do que o nosso humano entendimento. Não significa apenas ouvir com os ouvidos, mas significar vivenciar, viver com gestos as palavras ouvidas.
É muito interessante vermos determinados movimentos, associações ou pastorais da Igreja que sentem grande entusiasmo com a pregação da Palavra de Deus. Mas na prática pregam o fechamento para a sua atividade pastoral, esquecendo-se da pastoral de conjunto, da construção de redes de comunidade e da evangelização como obra comunitário-teológico-pastoral de comum união.
O Evangelho pede que todos nós tenhamos coragem de dar um passo maior e comprometedor: sair somente da Escuta para a vivência, para a prática efetiva. Jesus pede engajamento na realidade da vida, para que tudo, todos e todas as coisas se impregnem da força do Reino, isto é, de justiça, do perdão, da paz, da concórdia, e, acima de tudo, da verdade, critério básico de salvação.
O Evangelho de hoje vem combater algumas atitudes que são meramente humanas:
1. FORMALISMO: fazer as coisas apenas para constar, para cumprir um preceito. Uma coisa que não gera um compromisso de vida, de vida nova em Jesus Cristo Ressuscitado. Temos aqui o cristão de sexta-feira santa, ou aquele formalista que é católico só de fachada, sem compromisso evangelizador.
2. LEGALISMO: que consiste em cumprir apenas o que a lei manda. Este tipo de pessoa é incapaz de questionar o puro legalismo que oprime e não gera oportunidade de abertura para a caridade, porque na Santa Igreja “SALUS ANIMARUM SUPREMA LEX”, ou seja, a salvação das almas é a suprema lei, dentro do contexto canônico que a dispensa é a regra de conduta canônica. Jesus condenou muitas vezes o rigorismo jurídico das leis, porque ele veio não abolir a Lei, mas dar uma nova conotação, a conotação da VIDA. O próprio CRISTO MORTO, RESSUSCITOU, DANDO VIDA NOVA PARA TODOS OS HOMENS. A lei de Jesus é a lei do primado da vida, porque Ele é a Lei, dizendo mais em Jo 10,10: “Eu sou a vida; nasci e vim ao mundo para que todos tenham vida e vida em abundância”.
O Evangelho de hoje desdiz aqueles que pretendem uma Igreja exclusivamente espiritual, isto é, apenas de oração, orante e preocupada extremamente com o mundo dos espíritos ou da escatologia. O Evangelho pede engajamento na construção da casa sobre a pedra. Por isso o cristão batizado é chamado e conclamado a se preocupar com o irmão excluído, indo ao seu encontro minorar a sua dor, é chamado a autenticamente se preocupar com o mundo da política, para que os valores cristãos permeiem a sociedade. O católico deve colocar em prática aquilo que em espírito eleva ao Senhor da Vida. Tudo isso porque a justiça, a verdade, a vida, a paz, o amor tem muito a ver com a vida eterna que começa aqui e agora, em comum unidade de fé.
Outra coisa que Jesus nos pede no Evangelho é que nos libertemos de duas tentações perigosas para a nossa fé: TRIUNFALISMO E CARISMATISMO. Tudo que é “ismo” é errado. O triunfalismo é criar um Jesus que não é o Jesus pobre, humilde, e amoroso de nossa fé que venceu o mundo, morrendo na Cruz pela salvação de todo o gênero humano. O carismatismo é colocar ou tirar demônios de onde eles não existem. Temos que viver uma espiritualidade profundamente voltada para a formação de comunidade de santos e pecadores, todos, sem distinção, procurando coerentemente a santidade de vida, unindo fé e vida.
Meus irmãos,
Paulo na Segunda Leitura(Rm 3,21-25a.28) insiste em que somos justificados pela fé e não pelas obras da Lei. Porém não há incompatibilidade, é apenas o outro lado da medalha. Para poder agir conforme o espírito de Cristo, devemos, inicialmente, superar a nossa auto-suficiência, parar de sermos donos da verdade. As obras devem ser a conseqüência da fé, da confiança em Jesus Cristo, Que invade o nosso coração e o transforma, quando vislumbramos Nele o grande amor que Deus nos tem. Que a fidelidade que nos é proposta nos faça, quotidianamente, colocar hoje diante de vós uma verdadeira vida de coerente santidade, unindo fé e vida, oração e obras de caridade, para que possamos superar a miséria intelectual e a fome material de nossos irmãos e irmãs.
Nesta leitura refletimos sob a graça de Deus, manifestada em Cristo, e a justificação pela fé. Romanos mostrou que todos são culpados diante de Deus. Agora São Paulo mostra que Deus os pode tornar justos – justificar. Deus restaura o homem na sua amizade, se ele aceita, na fé, a doação da própria vida que Jesus realizou no sacrifício da Cruz. Esta oferta e pura graça, puro dom de Deus. Não depende de méritos nossos – provindos da observância pura da Lei, de pios exercícios, façanhas pastorais, etc. – mas também não quer dizer que podemos recebê-la sem fazer nada. A fé é que nos faz acolher o dom de Deus, mas ela produz também frutos na prática.
Caros fiéis,
Caros fiéis,
Enquanto o mundo profano celebra desregradamente o Carnaval a nossa fé não pode ser reduzida ao “dizer”, a uma oração separada da vida, convém lembrar, entretanto, que ela não coincide tampouco com o “fazer”. Isto é lembrado especialmente hoje, quando tudo na sociedade nos leva a medir os valores, os acontecimentos e as pessoas na base do critério da eficiência, do sucesso, do lucro, da promoção na carreira profissional..., isto é, na base de um fazer que nada tem de evangélico. O agir pelo evangelho nada tem a ver com o conceito de eficiência e sucesso. Pelo contrário, frequentemente é um agir, do ponto de vista humano, coroado pelo insucesso e pelo malogro mais paradoxal. Humanamente falando, a vida de Cristo não termina com o sucesso, mas com a mais humilhante falência: a condenação, o abandono dos discípulos, a morte infame na cruz. Mas é precisamente neste insucesso que o mistério da salvação e o triunfo da Páscoa lançam as suas raízes.
Meus irmãos,
Somos convidados a fazer uma revisão de vida. Hoje somos apenas ouvintes da Palavra de Deus? Ou nós a cumprimos? Devemos ter consciência de que somos chamados a compreender a Palavra de Deus e nos comprometermos com Ela, dando ao mundo testemunho desta Palavra e transformar esta Palavra em ações concretas no nosso dia a dia. Somente seguiremos o caminho da benção de Deus quando compreendermos o Evangelho e vivermos com testemunhos pela Palavra santificadora e pela ação o mistério do Cristo que se faz companheiro na caminhada para o Céu. Amém!
Por: Padre Wagner Augusto Portugal
Fonte: catequisar
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