Revista Isto É
Uma igreja sem padre, uma fé sem igreja. Entre os europeus esse cenário
é mais do que possível. A descristianização da Europa, que outrora foi
responsável por levar o Evangelho à América Latina, atingiu um grau tão elevado
que há uma corrente de teólogos que acredita que o catolicismo esteja dando
adeus ao Velho Continente.
Na Holanda, por exemplo, a diocese de Den Bosch, no sul do país,
estuda deixar na ativa apenas um quinto das atuais 250 paróquias. O destino da
maioria delas poderá ser a transformação em museus e livrarias, o funcionamento
esporádico com missa apenas uma vez por semana ou a demolição. “Não há padres,
fiéis ou dinheiro suficientes para mantê-las”, diz o frei Jan Bolten, um
holandês que, por mais de 40 anos, foi missionário no Brasil e que há três foi
escalado para retornar para a sua terra natal. “Os bispos daqui estão buscando
padres no Exterior.” Um dos países que têm exportado seus sacerdotes para o
Velho Mundo é o Brasil, que outrora mandava seus jovens vocacionados para
a África e Ásia.
Bolten e os freis João de Deus Campos, 42 anos, e Luciano
Henrique Veras Tito, 33, desembarcaram no frio vilarejo de Handel, no município
de Gemert, próximo da Alemanha, com a missão de não permitir que a chama
da congregação dos carmelitas descalços se apagasse. Os três moram na paróquia
Nossa Senhora da Assunção e formam uma atuante comunidade católica, algo que
não existia quando a igreja era tocada por um holandês. Mineiro de São
Lourenço, João de Deus era vigário paroquial em Caratinga (MG) antes
de se mudar para a Europa. “Mas eu não celebro somente em Handel”, diz
ele. “Já rezei missa em outras 20 igrejas holandesas.”
A Holanda já foi a maior fornecedora de missionários católicos para o
Brasil, meio século atrás. Entre os europeus, o envelhecimento do clero e a
diminuição das vocações têm exposto a vida eclesial da região a uma enorme
fragilidade.
No Brasil, por outro lado, o novo Anuário Católico, que será
distribuído pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) , mostra
um cenário diferente. Aqui, apesar de ainda haver pouco padre por habitante (um
para cada 8.624), o número de paróquias e de sacerdotes está em crescimento.
Segundo o Anuário, há 22% mais igrejas e 31,8% mais párocos do que
em 2000. “O apelo para as vocações sacerdotais tem se intensificado nos últimos
anos e vem sendo realizado pelas tevês católicas e as novas mídias, como sites
e redes sociais”, afirma a socióloga da religião Sílvia Fernandes, da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). “Por outro lado, a
figura do padre está se modernizando e dialogando mais com a sociedade, o que
pode também funcionar como um fator de atração para a juventude.”
Padre da paróquia Divino Espírito Santo, em Arthur Alvim, zona
leste de São Paulo, o paranaense Cláudio Francisco de Oliveira, 38 anos,
passou quatro anos celebrando na igreja São José, em Madri, na Espanha,
entre 2005 e 2009. Chegou àquele país para cursar um doutorado, mas foi
cooptado para celebrar na capital espanhola durante o período de estudos. “Os
padres jovens são minoria e alguns celebram no esquema de rodízio. Um amigo
de Bilbao, onde há uma residência sacerdotal com 400 padres aposentados,
cuida de cinco paróquias”, conta Oliveira, que também acumulava funções
rezando cinco missas por semana em uma residência de idosas.
O pároco paranaense relata que no País Basco há seminários sem nenhum
aluno. “Lembro que as cidades de Bilbao, São Sebastião
e Vitória uniram seus seminários e mesmo assim havia apenas seis
estudantes no total”, conta ele. A importação europeia de sacerdotes tem feito
com que alguns bispos da América Latina e da África sintam receio de enviar
seus padres para estudar no Exterior por conta da possibilidade de não tê-los
de volta.
A preocupação chegou ao Vaticano, que, em uma carta assinada pelo
papa Bento XVI, recomenda aos bispos da África que orientem seus padres a
retornar à terra natal após finalizar os estudos na Europa. Essa indicação foi
seguida pelo padre Oliveira, que voltou ao Brasil, apesar de ter recebido
uma proposta para seguir a vida eclesial na Espanha.
Fonte: Blog Carmadélio – Comunidade Shalom
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