A língua solta já pôs a perder muito do que um dia se chamou de amor.
O que vi naquele avião foi o claro
começo de um divórcio. Diante de todos a discussão prosseguiu por quase três
horas. Ele pedindo que ela parasse e deixasse para conversar quando chegassem e
ela insistindo que ele respondesse ali, diante de todos às suas perguntas.
Situação vexatória para todos os casais ali presentes. A uma senhora que tentou
falar com ela dizendo que não é assim que se revolvem os conflitos de um casal
ela gritou que calasse a boca. Os outros casais disseram a ela que quem deveria
se calar era ela que estava visivelmente fora de si.
Calou-se por três minutos e recomeçou
tudo. Ele, pedindo com calma que ela deixasse o assunto para discutir em casa.
Mas ela queria ali diante de todos no maior barraco. Ele tinha que responder
ali, naquele avião lotado de passageiros perplexos ante a violência das
palavras, alguns deles bem casados, bem educados, um o outro divorciado, mas
chocado. Não é assim que se segura um casamento e se não dá mais para conviver
não é assim que se divorcia. Mas as invectivas prosseguiram até saírem do
avião.
Às vezes o desnorteado é ele. Às vezes,
ela. No caso, foi ela, mas todos no avião estavam assistindo ao fim patético de
mais um casamento. É bem assim que começam os divórcios e as graves rupturas:
desrespeito, batalha campal, teimosia, humilhação, exposição do outro, nada
menos do que a derrota do outro. Tem que ser naquela hora e daquele jeito. Os
espectadores precisam saber quem manda naquela relação ou quem se cansou dela.
Se ele levantasse a voz, perdesse a
paciência ou levantasse a mão ela seria defendida. Mas como foi ela quem
aprontou a cena humilhante, divorciados, bem casados, maridos e mulheres ali
presentes tomaram o lado dele. Ela queria que o avião inteiro soubesse quem ele
realmente era. Enquanto isso, mostrava quem realmente ela era. Se não era, estava
histérica. Poucos descontroles chegam àquele nível. Foi destempero suicida.
Homens aprontam barracos, Mulheres também. Quem quer que o faça aumenta a
fissura e propicia a ruptura.
Casais se desentendem. São humanos.
Humanos às vezes têm rompantes. Mas quando se chega a este ponto é melhor que
ambos se calem, porque a língua solta jamais resolveu conflitos conjugais.
Quando um em que vencer ali mesmo e
mostrar quem tem o controle daquela casa, deixa claro sua incapacidade. Quem
não está no controle de si não pode ter a pretensão de controlar uma relação,
muito menos de vivê-la. A língua solta já pôs a perder muito do que um dia se
chamou de amor.
Por Pe. Zezinho
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