O AR QUE RESPIRAMOS
Tem muitas histórias sobre Jesus que ficaram fora dos evangelhos
aceitos pela Igreja. Uma delas conta que certo dia, quando Jesus caminhava na
beira do mar da Galiléia, um discípulo aproximou-se dele e lhe perguntou:
- Senhor, como posso alcançar a Deus?
Jesus entrou na água com o discípulo e o empurrou completamente para
baixo dela por bastante tempo, segurando a sua cabeça. Quando, enfim, o deixou
emergir, perguntou-lhe:
- O que você experimentou?
- Senti a minha vida ir embora. Meu coração começou a bater em
disparada. Eu estava louco para respirar e fugir dali.
Então o Senhor lhe disse:
- Você verá o Pai quando quiser isso com a mesma intensidade e força
com a qual você desejou respirar e fugir, quando estava com a cabeça de baixo
d’água.
Com o domingo de Cristo Rei encerramos o ano litúrgico. Mais uma vez,
revivemos os grandes eventos da nossa fé: Natal, Páscoa, Pentecostes, mais as
festas de Maria e de tantos outros santos e santas a começar com São José,
padroeiro da nossa Diocese. Em outubro, iniciamos também o Ano da Fé que se
concluirá, exatamente, daqui a um ano, na mesma ocasião deste domingo.
Após tudo isso, deveríamos poder avaliar um pouco mais a nossa vida de
cristãos. Mudou alguma coisa ao longo deste ano?
Podemos dizer que conhecemos melhor o nosso Deus para poder crer e
confiar cada vez mais nele?
Ele, nosso Pai, está bem perto de nós. Quis se fazer conhecer pelas
palavras e ações de Jesus, seu Filho, feito homem como nós, que “viveu em tudo
a condição humana, menos o pecado, anunciou aos pobres a salvação, aos
oprimidos, a liberdade, aos tristes, a alegria.” (cf. Oração Eucarística IV).
No entanto sempre tem algo de imprescindível para podermos nos aproximar mais
de Deus: o desejo de encontrá-lo para conhecê-lo mais! Não é Deus que se
esconde ou se afasta de nós, somos nós que o procuramos pouco e o desejamos
menos ainda. Temos muitas atrações neste mundo que motivam as nossas buscas, os
nossos desejos e anseios. Gastamos muito tempo, muitas energias, forças e
inteligência para alcançar as metas almejadas e realizar os nossos sonhos mais
ambiciosos.
Estamos tão atarefados com tudo isso que, às vezes, acabamos nos
esquecendo de Deus: deixamos de procurá-lo. Ele, porém, não desiste de vir ao
nosso encontro porque sempre nos espera, como fez o Pai da parábola que, de
longe, viu o filho querido voltar para casa e correu para abraçá-lo. Ainda
assim, Deus respeita a nossa decisão. Por isso, é muito difícil encontrar quem
não desejamos ou nem procuramos.
Estamos deixando Deus à margem da nossa vida, como se Ele pudesse
atrapalhar os nossos planos. Deveríamos caminhar com Ele, ou melhor, deveríamos
nos deixar conduzir por Ele. Seríamos assim construtores do seu Reino;
conscientes e felizes por colaborar com quem quer a alegria de todos, porque
ama a todos e sempre se deixa encontrar por aqueles que o buscam de coração
sincero.
Já deveríamos ter entendido que o Reino de Jesus não se compara com os
reinos deste mundo, não funciona com as armas do poder nuclear ou econômico que
seja; funciona somente com a força do amor e a luz da verdade. Assim Jesus
falou a Pilatos:
“Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz” (Jo 18,37). É urgente
reconhecer esta verdade; não podemos mais perder tempo. Somente Deus pode
satisfazer os sonhos bons, os desejos bonitos e os grandes projetos
verdadeiramente humanos e fraternos que ainda brotam em nosso coração quando
decidimos, uma vez por todas, desistir das nossas maquinações de poder, de
ganância, de opressão e de injustiça. Ainda não entendemos que esses planos
dividem a humanidade, causam as guerras, condenam-nos a constantes disputas
para provar quem é o melhor, mais esperto e mais poderoso entre nós. Continuam
gerando morte, lágrimas e revolta. Quantas vezes reclamamos que a vida é um
sufoco!
Precisamos respirar a plenos pulmões o ar puro do Reino do Senhor,
reino de paz, de bondade e de união. Precisamos desejar isso com todo o
coração, com a mesma intensidade de quando nos falta o ar que respiramos para
viver.
Por: Dom Pedro José Conti - Bispo de Macapá
Fonte: www.comshalom.org
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