As palavras testemunho, serviço e casais têm um forte sentido e um
profundo histórico na nossa Igreja e, especialmente, em toda a caminhada
cristã. Em um mundo onde muitas pessoas não acreditam mais no verdadeiro amor e
em tudo que dele deve brotar, como afeto, fidelidade, união, nós, discípulos de
Jesus de Nazaré, devemos estar prontos para carregar nossa bandeira de anúncio,
levantar nossas vozes de quem acredita ainda em um sonho que começou há mais de
2000 anos quando os discípulos do Mestre de Nazaré deram continuidade à sua
missão. Este sonho e esta caminhada chegou até nós e também nos chamou, nos
encantou. A vida e a esperança que o Senhor suscitou em todos e continua
suscitando hoje nós chamamos de Igreja, ainda mais, somos esta Igreja.
Para nós, Católicos, Apostólicos, Romanos, o sentido do Sacramento do
Matrimônio é o amor ágape, a caridade, a doação. Se todos os Sacramentos são
lugares de encontro com o Cristo Vivo, se são sinais sensíveis e eficazes que
além de nos mostrar onde Jesus está, também nos alimentam dele, cada casal tem
e é um tesouro que só com a nossa capacidade intelectual jamais
iremos entender por completo. Contudo este tesouro também se torna missão, pois
ninguém que ama consegue não ter uma atitude de comunicador do amor que
experimenta dentro de si.
O casamento mulher + homem é certamente amado por Deus, pois ele é amor
e misericórdia. Porém, nós católicos comprometidos com o discipulado de Jesus
Cristo, não só ficamos na esfera do ser amado por Deus, o que já é muito, mas
nos entregamos a ser, pelo Sacramento do Matrimônio, amor de Deus, sinal de
Deus, presença, lugar onde Ele é visto, é um passo a mais. A escolha humana, o
olhar de interesse que lançaram um para o outro, os levou, com a promessa do
altar, a um pacto, uma aliança com outra pessoa, a Pessoa de Cristo e tudo
torna-se uma missão porque quem faz aliança com o amor logo se torna mais e
mais parecido com ele, tudo que é dele e faz parte dele passa a ser nosso e
fazer parte de nós. Não é este milagre que vivemos e recebemos na Eucaristia?
Alimentados de Cristo voltamos para casa com a graça de ser mais parecidos com
ele, que se tornou, pelo Sacramento Eucarístico, parte de nós.
É tudo isto que recebemos e muito mais, tudo começou quando Deus nos
deu o dom da vida e quando levou tudo a um grau mais elevado quando faz o
segundo e profundo chamado de nossas histórias, o chamado a vivermos esta vida
como cristãos. É o Batismo a sala de entrada para todo este mistério que
podemos chamar de Céu, Deus conosco. Tudo o que recebemos no Batismo, se for
colocado em prática durante cada ano de nossas vidas nos leva, sem dúvida, a
uma vida doada, missionária. Como já dissemos, o amor tende a espalhar-se,
nunca se fecha em si mesmo mas explode em uma eterna doação. O testemunho passa
a fazer parte de nossas vidas quando acreditamos nisso tudo, e quando buscamos
viver, os nossos corações explodem em serviço e testemunho como o do Pai
explodiu neste espetáculo de luz e de cores que chamamos de Criação. O Espírito
Santo, que é o amor em nós nos dá a graça da fé para nossa salvação.
E o que é salvação? Entre outras coisas, salvação é voltarmos a viver
segundo a verdade mais profunda de nós mesmos, que somos imagem e
semelhança do Pai que nos criou por amor, no amor e para o amor. Uma
vez que nos afastamos por algum motivo desta verdade nos sujamos e deixamos
ficar sem brilho a parcela do Belo que está em nós e que somos nós. O homem não
é ruim, ele é bom, lemos isto em Gêneses (Gn 1,26-31). O que acontece é que às
vezes nos perdemos do caminho, só que uma vez sujos precisamos de conversão. É
minha tomada de consciência de que preciso retomar algumas coisas para me
identificar com Cristo, só ele pode fazer com que eu volte a ter o que perdi: a
intimidade total com o amor. Todos os Sacramentos querem modelar Cristo em nós
e nos modelar no Cristo. Preciso me preencher das atitudes do Cristo, ser como
ele, como diz nosso querido Pe. Zezinho, “amar como ele amou, sonhar como ele
sonhou, sentir o que ele sentiu”... e assim por diante, fazer o que ele fez:
dar-se para ser testemunho do amor que é o Pai. Dar testemunho é uma questão de
amor, de amar ou não amar. Se amo darei testemunho. Se não me encontrei com o
amor vou dizer o quê? Já podemos ir percebendo a beleza do Matrimônio e de toda
a vida de nossa Igreja.
O Evangelista João nos trás o mais profundo de Deus: “Amados,
amemo-nos uns aos outros, pois a amor vem de Deus. E todo aquele que ama,
nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é
amor. Nisto se tornou visível o amor de Deus entre nós: Deus enviou o seu Filho
único a este mundo, para dar-nos a vida por meio dele. E o amor consiste no
seguinte: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou, e nos
enviou o seu Filho como vítima expiatória por nossos pecados. Amados, se Deus
nos amou a tal ponto, também nós devemos amar-nos uns aos outros” (1 Jo
4,7-11).
O amor deve ser a centralidade da vida do cristão. Estamos aqui pra
quê? Certamente para encontrarmos e nos aperfeiçoarmos no amor. A Igreja não é
uma associação de bairro, um sindicato, um grupo de amigos somente – por mais
que isto seja belo e necessário – com regras, estatutos e leis egoístas, é uma
família que toma consciência, a cada passo, que deve crescer no amor, só n’Ele
está a santidade que aspiramos; tenho insistido nisto neste texto mas é
necessário.
O que será espiritualidade? Onde queremos chegar? O casal deve viver
uma vida no Espírito, serem dois “buscadores” de Deus. O amor não é um
sentimento, ele passa e dá sentido aos nossos sentimentos. Mas o amor em si é
uma vida, um compromisso, uma jornada, uma Pessoa concreta com quem queremos
caminhar e de quem devemos dar testemunho. O casal cristão deve saber
claramente desta realidade, principalmente o casal que se torna Sacramento do
Matrimônio. Há uma diferença entre receber um sacramento um dia na vida e em
tornar-se este Sacramento em cada dia da vida, viver para ser neste Sacramento
uma eterna celebração do que ele representa e do que ele é.
Testemunhar é tornar claro o que os outros não conseguem ver sozinhos.
O que será que mais nos encanta e chama a nossa atenção nas pessoas que
chamamos de santas? Certamente não é, ou não deve ser, dotes especiais, mas a
capacidade que elas têm de refletir e transmitir, tornar clara, uma realidade
que não vemos com muita facilidade. Quem de nós não se sentia alimentado de
esperança e força ao olhar para João Paulo II, Madre Teresa de Calcutá, Irmã
Durce e tantos outros? Testemunhar é transparecer o que se acredita, quando se
busca viver de verdade a escolha feita. Se nossas escolhas não são vividas não
nos levarão a nada; a estrada não nos levará se não nos colocarmos a caminho.
Se tentamos com sinceridade viver tudo isso, ou seja, a graça e o milagre que é
nosso batismo, passamos logo a querer que outros vivam também. O amor é
essencialmente missionário. O testemunho brota do amor bem experimentado, não o
aprenderemos em uma faculdade, se vivemos o amor ele brotará, é conseqüência.
Depois de todo este itinerário não precisamos mais falar muito sobre a
necessidade do serviço e que serviço devemos prestar na Igreja e no mundo. Ele
está na mesma linha do testemunho, se amo eu me coloco a serviço. Por isso
Maria é nossa mãe e o modelo mais forte do cristianismo católico, ela foi toda
testemunho e serviço. Que ela nos ajude a sermos imagem de seu Filho. Amém!
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